A Fossa das Marianas, local mais profundo do nosso planeta, é um abismo no Oceano Pacífico que se estende a impressionantes 11 mil metros de profundidade. A despeito das adversidades enfrentadas nesse local extremo, como ausência de luz, baixas temperaturas e uma pressão quase mil vezes maior que a da superfície, a fossa é lar para uma fascinante biodiversidade microbiana.
Recentemente, cientistas da Universidade do Oceano da China revelaram uma descoberta surpreendente originária desse abismo: um novo vírus, cuja existência amplia nosso entendimento sobre a vida nas profundezas do oceano.
O periódico científico Microbiology Spectrum publicou na última quarta-feira (20) o estudo que detalha o vírus, identificado nos sedimentos coletados a 8.900 metros de profundidade. Designado como vB_HmeY_H4907, o microrganismo é bacteriófago, implicando que seu ciclo de vida envolve a infecção e replicação dentro de bactérias, mais especificamente aquelas do filo Halomonas.
Halomonas, vale ressaltar, são frequentemente encontradas em ambientes marinhos profundos, especialmente perto de fontes hidrotermais, que são aberturas no fundo do mar, semelhantes a gêiseres, exalando correntes de água superaquecida.
As análises genômicas indicam que vB_HmeY_H4907 não apenas se assemelha estruturalmente à sua bactéria hospedeira, mas também que faz parte de uma família viral até então desconhecida, proposta pelos cientistas como Suviridae. “A presença disseminada de Suviridae no ambiente marinho aponta para a dominância dessa nova família viral nas profundezas oceânicas”, mencionam os pesquisadores.
Uma peculiaridade desse vírus é sua natureza lisogênica. Em vez de destruir sua célula hospedeira, ele se integra ao DNA bacteriano, replicando-se conforme a bactéria se divide e garantindo sua perpetuação nas gerações futuras.
A virologista marinha Min Wang, membro da equipe de pesquisa, ressaltou a relevância dessa descoberta. Segundo ela, o estudo oferece uma nova perspectiva sobre a evolução dos bacteriófagos no fundo do mar e sobre suas complexas interações com as bactérias hospedeiras. Animada, a Dra. Wang afirma que pretende se aprofundar ainda mais na investigação da virosfera em ambientes extremos. “Há muito mais a ser descoberto nas profundezas. E cada nova descoberta nos ajuda a entender melhor a intrincada teia da vida na Terra”, finaliza a cientista.
Em um mundo onde as fronteiras do conhecimento estão em constante expansão, o estudo destaca a riqueza e a complexidade da vida em locais que, à primeira vista, pareceriam inóspitos. A Fossa das Marianas, com seus mistérios e profundezas, é um lembrete de que ainda temos muito a aprender sobre nosso próprio planeta.
Por Marcony Edson