Estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) elaboraram uma série de propostas para a instituição de ensino e entregaram um documento na terça-feira (31) contendo mais de 20 reivindicações elaboradas após Assembleia Geral. Um grupo realizou um protesto e pediu justiça por Janaína Bezerra, estudante que foi estuprada e morta após calourada no último sábado (28) dentro do campus.
Entre os pedidos estão um memorial para Janaína e uma indenização para a família da estudante. Além de maior policiamento, iluminação, monitoramento de câmeras e a implementação de um protocolo para apurar denúncias de assédio na instituição.
Os estudantes também reivindicam a saída do atual reitor Gildásio Guedes e a responsabilização dele e da administração pelo caso. O principal suspeito de cometer o crime, o mestrando Thiago Mayson da Silva Barbosa, de 28 anos, teve a prisão preventiva decretada. A vítima, segundo a polícia, foi estuprada e teve o pescoço quebrado.
Outras medidas solicitadas pelos alunos causaram polêmica, entre elas, um policiamento não armado e a retratação em relação a proibição de festas dentro do campus. A UFPI proibiu a realização de eventos após o assassinato de Janaína. Em nota, a instituição alegou que a calourada, realizada nas dependências do DCE, não teve autorização.
Veja a lista completa
- Indenização da família de Janaína;
- Reabertura do RU1 a noite;
- Ampliação de todas as frotas de ônibus, linhas que dão acesso a UFPI ( dizer as linhas) e novas linhas saindo de cada bairro a universidade, aumento da circulação/ horário do Fantasmão, com linha vindo de Timon com integração do transporte das duas cidades e que nessa discussão tenha a UFPI, SETUT, Prefeitura de Timon e STRANS; Manutenção/ corte dos matos e podas;
- Iluminação do Campus Petrônio Portela;
- Criação da Ouvidoria exclusiva para casos de denúncia de assédio;
- Ampliar os horários de abertura dos portões dos centros;
- Mais patrulhamento de motos, inclusive nas paradas de ônibus; Seguranças Mulheres;
- Monitoramento por câmeras nos corredores dos Centros,paradas de ônibus, entradas e saídas;
- Jurídico da UFPI entrar com medida protetiva contra Hudson (ex aluno de Filosofia); Policiamento não armado;
- Dossiê de denúncias : Janaína da Silva Bezerra; Decretar o dia 28 de Janeiro como dia de memória a Janaína da Silva e combate a violência de gênero dentro da Universidade; Atendimento de urgência e emergência para estudantes no HU;
- Interferência em todos os cursos do Campus, com ênfase no curso de Exatas, Natureza e Saúde: cursos/ projetos de extensão e no currículo;
- Rede de combate ao assédio e medidas institucionais;
- Criação do Fórum de segurança;
- Garantia da segurança dos ocupantes da Reitoria;
- Memorial físico custeado integralmente pela UFPI em memória de Janaína da Silva no espaço do CCN;
- Participação paritária/proporcional com estudantes,professores e servidores no plano de segurança;
- Saída do interventor Gildásio por meio de novas eleições, além de responsabilização do mesmo e da administração;
- Chamar o Governo do Estado do Piauí a responsabilidade;
- Nota de retratação da UFPI em relação a criminalização dos eventos, como calouradas e do movimento estudantil (DCE) e revogação da portaria 49/2023 que proíbe as calouradas. Rever o protocolo de acesso ao Noé Mendes para realização de eventos
UFPI diz que medidas serão adotadas para reforçar segurança
Na terça (31), a pró-reitora de ensino de pós-graduação, Regilda Saraiva, relatou à TV Antena 10 que a instituição atenderá as reivindicações dos alunos que pediram mais segurança e ações de combate à violência dentro do campus. Sob gritos de “justiça”, alunos realizaram um protesto e ocuparam a reitoria.
Regilda, que está substituindo o reitor em exercício, Viriato Campelo, destacou que as reivindicações dos alunos foram ouvidas e que medidas de curto e longo prazo vão ser tomadas. Ela também rebateu as falas dos alunos em relação às denúncias de assédio que aconteciam dentro da instituição. Alunos alegaram que a UFPI foi omissa em casos de assédios por parte de professores e alunos dentro da instituição.
“Eles trouxeram reivindicações que consideramos justas e necessárias, algumas tentaremos resolver a curto prazo, outras temos condições de resolver a médio prazo, mas nós precisávamos ter esse diálogo para o combate da violência. [Denúncia de assédios] Em relação, a outras gestões não tenho conhecimento, nessa gestão sempre que trouxeram [demandas] tomamos providências. Nós entendemos que a violência tem aumentado bastante e chegou até a universidade desta forma, nunca se pensou que na universidade ia ter um crime, mas nós enquanto instituição temos que tomar posição e arcar com as medidas para que isso nunca mais aconteça”, explicou.
Medo de voltar à sala de aula
Uma estudante identificada apenas como Geovana, do 1º período, relatou à TV Antena 10 que os pais dos alunos estão preocupados com a falta de segurança na UFPI. A jovem relatou ainda que sua mãe pediu para ela deixar a universidade com medo dela não voltar para casa, principalmente depois do caso que ocorreu com Janaína que foi para uma calourada e foi estuprada e morta dentro da instituição. Os alunos pedem segurança com urgência.
“Culparam a gente, calourada é um momento para gente se divertir, brincar, mas também a gente consegue um lucro extra para fazer um projeto novo, porque a verba disponibilizada pra gente é extremamente baixa. Alunos foram assediados antes e o que fizeram foi abafar e não liberaram câmeras. Minha mãe pediu para eu desistir do curso, antes de eu entrar ela disse que o maior sonho dela era ver uma filha dela entrando em uma federal, se formando. Hoje em dia ela prefere que eu não estude em um lugar em que eu possa não chegar em casa um dia, eu possa estar morta”, desabafou.
UFPI abre sindicância para definir punição de mestrando
A Universidade Federal do Piauí (UFPI) anunciou que formou uma comissão de sindicância para apurar as condutas de Thiago Mayson da Silva Barbosa, de 28 anos, suspeito de estuprar e matar a estudante de Jornalismo, Janaína Bezerra, de 22 anos, no último sábado (28), após uma calourada. Ele segue preso desde o dia do ocorrido.
O reitor Viriato Campelo relatou à TV Antena 10 que a sindicância irá apurar as atitudes do suspeito para além da questão criminal, independente dos resultados da investigação policial e do processo. Entre as sanções direcionadas a Thiago está o cancelamento da sua matrícula, mesmo que ele venha a ser inocentado. O prazo é de 30 dias.
A comissão se reunir para deliberar também sobre o fato do estudante estar bebendo dentro do campus, o que é proibido. A UFPI informou que Thiago Mayson tinha a chave da sala de estudo onde o estupro teria acontecido porque os alunos do mestrado, doutorado e iniciação científica de Matemática têm uma sala de estudo coletivo. A chave era compartilhada com outras 13 pessoas.
No dia do crime, um segurança da universidade flagrou Thiago com a blusa manchada de sangue e carregando a vítima desacordada em um corredor. Ao funcionário, o estudante relatou que a amiga tinha passado mal e estava procurando por socorro.
“Como pode o amigo de alguém estar passando mal e ele não chamar o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)?”, questionou o delegado Francisco Costa Baretta, diretor do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), responsável pela investigação, em entrevista ao R7.
O que diz o suspeito?
Thiago Mayson passou por audiência de custódia na tarde deste domingo (29). Em depoimento à polícia, ele contou que já conhecia a vítima e teriam “ficado” em outras ocasiões. Ele relatou que estavam em uma “calourada” na UFPI e que por volta das 2h convidou a jovem para seguirem a um corredor e em seguida se dirigiram a uma das salas de aula onde praticaram sexo consensual e que após a prática sexual a vítima teria ficado desacordada por duas ocasiões, sendo a última por volta das 4h.
Ele alegou que permaneceu ao lado do corpo da vítima durante toda a madrugada e solicitou socorro à segurança da Universidade por volta das 9h de sábado (28), que conduziu a vítima ao Hospital da Primavera, onde foi constatado o óbito. Segundo o IML, a causa da morte aponta para trauma raquimedular por ação contundente, ou seja, houve uma contusão na coluna vertebral a nível cervical, o que causou lesão da medula espinhal e a morte.
O delegado Barêtta, coordenador do DHPP, relatou ao A10+ que Janaína foi violentada em uma sala no prédio do Programa de Pós-Graduação em Matemática. Na sala foi encontrado um colchão ensanguentado. De acordo com a legista, a ação contundente pode ter sido causada por pancada, torcendo a coluna vertebral ou traumatizando, ação das mãos no pescoço com intuito de matar ou fazer asfixia, queda, luta, dentre outras possibilidades que estão sendo analisadas junto às investigações do caso.
Fonte: Blog A10+