O jornal sempre foi minha paixão. A palavra impressa, transmitindo sentimentos, fazendo história, no contar o dia a dia. Quando estava no Liceu Maranhense, aos quatorze anos, fundei a Folha do Estudante, que desejava ser a alma dos jovens colegas, expressas na poesia, na crônica, no desejo de deixar as palavras impressas, eternizadas. Ficamos no primeiro número. Já no Grupo dos Poetas da Movelaria Guanabara, como não tinha chegado ao Maranhão a Semana da Arte Moderna de 1922, que marcou a literatura brasileira, fiz com Tribuzzi, Madeira, Luís Carlos Belo Parga, Evandro Sarney, Paiva Filho, Floriano Peixoto, Cadmo Silva, Figueiredo, Lucy Teixeira, pintores, poetas, cronistas, contistas o Movimento Neomodernista, como foi chamado no Maranhão. No Brasil todo surgiam revistas literárias para dar voz a nossa geração. Quixote no Rio Grande do Sul, com Faoro; Joaquim em Curitiba; Orfeu, com Lêdo Ivo, no Rio; Região na Paraíba, com Edson Regis; Clã no Ceará. Eu, Tribuzzi, Bello Parga, Madeira sonhamos fazer a nossa e fundamos A Ilha, que teve vida efêmera, dois números, mas marcou a contestação ao parnasianismo e ao que chamávamos “passadismo”. Gullar e Burnett tinham o Centro Cultural Gonçalves Dias, e Gullar disse depois que éramos mais avançados. Vi A Ilha desaparecer guardando os nossos primeiros gritos de inconformismo.
Já na política, Tribuzzi sempre ao meu lado, resolvemos fundar O Estado do Maranhão com o objetivo de modernizar a imprensa maranhense, até então mergulhada na sombra do pasquinismo panfletário do século XIX. Compramos o Jornal do Dia e o transformamos em O Estado do Maranhão, trouxemos a primeira rotativa para o Estado, uma rotativa Goss, muito primitiva e modesta, mas que por mais de vinte anos rodou o nosso jornal, que foi na época a modernidade chegando à impressão de jornal. Também fomos pioneiros na composição a frio, com um modelo Singer, que só nos deu dor de cabeça. Mas foi o primeiro e depois evoluímos.
Fizemos um jornal moderno, colorido, com um texto cuidado e dinâmico. Assumimos a liderança da imprensa no Maranhão até hoje, sendo uma tribuna dos problemas do Estado e um seminário permanente do debate de ideias. Por aqui passaram grandes nomes da literatura do Maranhão. O jornal foi dirigido por nomes importantes. Para dividir as minhas lágrimas, quero resumir todos no de Tribuzzi, que na eternidade chora conosco neste momento em que deixamos a edição impressa para ficar somente na digital. Seguimos a tendência mundial, forçados pela era do virtual, pela transferência da publicidade para a internet — e, é preciso reconhecer, dos leitores.
Não encontramos vacina para nos salvar. Foi a tecnologia que criou o jornal, de seus primeiros ensaios no século XVI ao vigor político do XVII, até ser motor das revoluções industriais e políticas dos séculos seguintes e tornar-se o Quarto Poder.
Por mais de quarenta anos todos os domingos a Coluna do Sarney levou minhas ideias aos nossos leitores.
Não sei dizer adeus. As fases que atravessei na vida — e elas se sucederam com a vida longa que a graça de Deus me concedeu — as encerrei chorando com os olhos, o pensamento e a garganta. Assim deixei minha coluna de sexta-feira na Folha de S. Paulo, ao completar 20 anos. Deixo agora as páginas de O Estado do Maranhão para me adaptar à Coluna do Sarney digital, no Imirante, nosso vitorioso portal.
Não sei dizer e não digo adeus aos meus leitores. Este jornal de hoje guarda minhas lágrimas e meu coração dilacerado. É a vida. Pablo Neruda lamentava um amigo morto: “É um carvalho tombado no meio da casa.”
Aí estão os meus sonhos, sonhados com Tribuzzi e Odylo. Mas os sonhos não morrem, são sementes que germinam e florescem.