Cuba, a pequena ilha caribenha, voltou a ocupar espaço no debate mundial sobre os rumos adotados naquele país da América Central. O fato marcante e recente foram algumas manifestações que ocorreram cobrando ações sobre a terceira e maior onda da pandemia do Coronavírus, falta de medicamentos e as limitações impostas em vários aspectos da qualidade de vida do povo cubano.
As opiniões se dividem sobre a verdadeira causa por trás das manifestações. Para uma parte, o governo cubando é uma ditadura a impor sacrifícios e cercear direitos dos seus cidadãos. Para uma outra parcela a verdadeira causa das limitações está no embargo econômico imposto pelos EUA ao povo cubano.
Mesmo os defensores do regime iniciado por Fidel Castro a partir de Sierra Maestra sempre se dividiram quanto as opiniões relacionadas a métodos e estratégias da revolução cubana, que se tornou modelo por um lado e motivo de críticas para outros.
O tempo mostrou que o embargo se constitui muito mais como um verdadeiro bloqueio, apesar de não haver um bloqueio físico ou militar, já que é o mais longo da história da humanidade, vai completar 60 anos, e não se limita apenas à decisão do governo em si de não negociar com Cuba, mas é regulamentado por seis estatutos que determinam sanções a americanos e subsidiárias de empresas americanas que negociam sem autorização do governo, bem como impõe medidas de restrição de acesso ao mercado americano a outros países que negociam diretamente com Cuba.
O motivo que mais estimulou o bloqueio foi a chamada crise dos mísseis em 1962, mas a crise foi superada e o bloqueio se manteve. Ao que tudo indica ele visa forçar a derrubada do governo cubano a partir de uma sonhada revolta popular por conta das condições precárias de alimentação e sobrevivência na ilha, mesmo havendo forte resistência mundial a esses embargos. A ONU já adotou 27 resoluções pelo fim do bloqueio que não são obedecidas pelo governo americano.
Muitas informações das ações contra Cuba foram ficando conhecidas ao longo do tempo. Fabian Escalante, o “anjo da guarda de Fidel”, membro da segurança pessoal do comandante e do serviço de contrainformação cubana, aponta na obra 638 Ways to Kill Castro, que a CIA organizou 638 planos para matar Fidel Castro. Alguns não saíram do papel, outros foram de fato executados, conforme documentos liberados pelo governo americano. Desde a Baía dos Porcos, conchavos com a máfia americana, até a última tentativa que teria ocorrido no ano 2000 em viagem ao Panamá, onde foram encontrados 90 quilos de explosivos sob o palanque no qual ele faria um discurso.
Há sempre uma tendência de se querer comparar Cuba a outros países. Mas é muito difícil que essa comparação seja justa, uma vez que nenhum outro país no mundo experimentou igual situação de bloqueio econômico por tanto tempo. Nos faz lembrar um princípio da química conhecido como Lei de Avogrado: “Dois gases diferentes, de volumes iguais, só possuirão o mesmo número de moléculas se submetidos às mesmas CNTPs (Condições Normais de Temperatura e Pressão)”. Sabemos que a temperatura e a pressão impostas a Cuba são muito diferentes das que vivem a maioria dos países no mundo.
A existência de um país tão pequeno e próximo dos EUA, desafiando o modelo americano, provoca incômodo mas também ensina muito sobre resistência e autodeterminação. A presença do presidente cubano no meio dos manifestantes, conversando com a população, deixa sem crédito o discurso de ditadura e alimenta o romantismo da utopia, da luta e de um mundo mais solidário relembrado na contribuição cultural da mistura de rum Bacardi, refrigerante cola e limão: “Cuba Libre”.