O mundo da política maranhense, a direção do PCdoB e também sua militância foram surpreendidos com o anúncio da saída do atual governador do Maranhão, Flávio Dino, dos quadros do partido comunista para se filiar ao PSB. Entrar e sair de partidos é um direito de qualquer cidadão, mas o debate que se estabeleceu em sequência não diz respeito à ciência jurídica, mas à coerência política e ao estilo de se fazer essa política.
Ao mesmo tempo que muitos lamentam a sua saída, vale lembrar que para tantos outros ele nunca foi na prática um militante, mas um filiado. É importante registrar essa diferença, pois o militante além de participar ativamente da vida partidária, se submete ao debate coletivo em detrimento de eventuais interesses pessoais. Sob esse ponto de vista, da militância e do debate coletivo, podemos afirmar de forma resumida e sem medo de errar, que de certa forma, “se foi quem nunca veio”.
A conquista do mandato de deputado federal deu-se muito mais pela ação do ex-governador José Reinaldo Tavares do que pelo mérito do candidato ou do próprio partido. Oferecemos o partido para ganharmos um mandato. Começamos mal, pois o amor à causa deveria falar mais alto. Namoros que se iniciam por interesse, geralmente não terminam bem. O partido errou ao aceitar se tornar o lado mais frágil dessa relação, no entanto agiu de boa fé e sempre deu mais do que recebeu. Deu o controle da direção estadual e aceitou, inclusive, que esse controle fosse repassado a um “amigo de fé” do “novo cristão”.
A primeira eleição para o governo estadual deixou de lado o debate profícuo que tínhamos com o grupo do ex-governador Jackson Lago. Ao mesmo tempo abrimos mão da amplitude política e dos temas nacionais, que sempre nos nortearam, para adotarmos a estreiteza de um único discurso, passando a colher dividendos apenas com a retórica anti-Sarney. Já no governo, tivemos que lidar com a contradição de que as novas alianças prestigiaram exatamente os agora ex-aliados do ex-presidente, tanto no debate político quanto na esfera administrativa. Haja dialética para compreender que o governo da esquerda tinha e tem ainda hoje mais discípulos do “imortal” do que os próprios governos “puro-sangue” do grupo Sarney.
Não foi fácil acompanhar e digerir o conjunto de práticas e discursos camaleônicos. Um belo dia temos um governo que se apresenta como novo e para todos. Já em outra bela manhã de sol, se reproduzem práticas que beiram o coronelismo com aliados cruzando os céus da política em frenéticas mudanças partidárias visando única e exclusivamente controlar todas as legendas. Até alianças inesperadas foram realizadas com o governo Bolsonaro, como foi o caso da capitulação diante do acordo de uso da base de Alcântara pelo governo americano. Tanto stalinistas quanto trotskistas já roeram todas as unhas e o couro dos dedos tentando entender.
A inteligência e determinação do mais novo “psbista” merecem registro, mas devem ser graduadas dentro do propósito maior da luta do povo. Não passou despercebido que dois governos estaduais conquistados em nome dos trabalhadores não tinham sequer um sindicalista em suas hostes, assim como a opção por uma corrida “obramentista”, tendo o convênio por asfaltos com prefeituras, se tornado mais importante que a busca da superação dos vergonhosos índices do nosso IDH.
A saída do governador, do partido que o abrigou por longos 15 anos, poderia ter acontecido ao final de um debate político, de forma honrosa e à luz do dia, mas lamentavelmente ela se deu na calada da noite e utilizando a porta dos fundos.