Sou de uma geração que conviveu permanentemente sob os efeitos desta pergunta e de tantas que circundam esta matriz energética, derivada dos combustíveis fósseis, o petróleo é a um só tempo fonte de riqueza e miséria, de guerras insanas e disputas intermináveis e ao mesmo tempo sinônimo de desenvolvimento, posto que o domínio da cadeia produtiva dele derivada diminuiu distâncias, tornou o mundo mais veloz, aprimorou conhecimentos e produziu conforto e bem-estar.
Com a criação da Petrobrás, no longínquo governo de Getúlio Vargas, o Brasil passa a dominar esta cadeia produtiva, que vai da prospecção e extração a sua utilização em múltiplas formas e variantes. Admitamos ou não, este tema, desde a origem da companhia, sempre esteve permeado de forte conotação ideológica, o tom conferido à campanha, “O PETRÓLEO É NOSSO”, que ganhou as praças e ruas, quando da estatização desta atividade no país, denota bem o sentido do que afirmo.
No início deste século, o brasileiro tomou conhecimento que nos tornamos autossuficientes na produção de óleo cru, logo mais à frente, com a descoberta da descomunal reserva conhecida pelo nome de Pré-Sal, feito exaustivamente explorado pelo mandatário de plantão, dava a impressão de que estávamos livres da interferência externa no gerenciamento da matéria. Se produzíamos, refinávamos e distribuíamos todo combustível que utilizamos, por que razão deixaríamos outros meterem a colher. Sendo assim, nós definiríamos uma política de preços que satisfizesse a sociedade, resguardando, inclusive, o direito ao justo lucro das empresas envolvidas.
Se extraímos todo óleo cru, segundo especulações, a um custo de menos de 2 dólares do preço ofertado pela Arábia Saudita, maior produtora mundial; se temos usinas suficientes para o refino, que razões justificam uma paridade pela cotação internacional, para a definição do preço a ser praticado entre nós. E tudo o que afirmamos até aqui, ou se configura em uma verdade cristalina, ou em uma afrontosa mentira dos dirigentes nacionais. Que apareça a verdade. Se não temos problema na extração do produto, menos ainda com o refino, sou forçado a entender que o problema está na distribuição, e quem cuida disto, perguntemos juntos?
Aí começa a confusão! Quem cuida são as multinacionais, Saudi Aramco, Oil Company, ExxonMobil, entre outras. Que produzem ou compram aonde for mais conveniente, para vender onde bem lhe aprouver. Diante disto, sou forçado, pelos fatos, a fazer a primeira provocação. O que estrategicamente o país ganhou com a recente privatização da BR DISTRIBUIDORA?
No mesmo sentido, o que ganhamos, enquanto pátria soberana, com a política de atração de recursos entregando a prospecção, a extração e o refino às empresas transnacionais? O quanto perdemos ou não de liberdade econômica com a venda das refinarias? Temos capacidade hoje, se assim desejássemos, de prover o mercado interno por meios nacionais? Quem dita as regras no conselho de administração da Petrobrás, por acaso, ainda é o sentimento manifestado quando da fundação da estatal no longínquo ano de 1953.
Sei que não tenho as respostas, penso, entretanto, que alguém precisa urgentemente explicar este problema, não sendo assim, continuaremos divididos numa guerra de guerrilha, imaginando os roubos acontecidos na estatal, ou melhor, nem mesmo isto esta empresa é mais, com a abertura de seu capital social. Ou nos juntamos aos milhares que vão para as ruas pedindo o fim dos aumentos abusivos, quase duas dezenas em dois anos. Acredito que se começarmos a desvendar o fio do novelo das multinacionais, descobriremos coisas.
O desenvolvimento do capitalismo e a desumana concentração de riquezas, em cada vez menos mãos, vai gestando um mundo que se assemelha ao mostrado nos filmes de ficção, onde alguém é o dono da polícia do exército, e assim dono de todos. Se no petróleo estas empresas já possuem este descomunal poder, o fenômeno não está circunscrito apenas a este setor, na agricultura, por exemplo, se buscarmos saber quantos milhões de hectares a Bunge e a Cargill são proprietárias só no Brasil, já ficaríamos assustados, se esta análise se estender ao universo, veremos que seus domínios, são superiores as áreas de mais da metade dos países, considerados individualmente. É muito poder em poucas mãos.
Nas comunicações, não é de fácil mensuração quanto poder controlam os conglomerados representados pelo Facebook, Samsung, Google e Netflix menos ainda predizer o que farão num futuro não muito distante com os destinos de tantos, mundo afora, na medida de que são capazes de impor vontades, conceitos e valores.
Para que se tenha idéia deste perigo, sinto que a construção de blocos econômicos como o Mercosul o Mercado Comum Europeu, entre outros, que estabelecem o fim das barreiras alfandegárias, moeda única, passaporte unificado, entre outros mimos, nada mais é que uma vigorosa pressão dos atuais donos do mundo, em porem fim aos estados nacionais e abrirem caminho para a era dos extremos como chamou Eric Hobsbawm.
Enquanto não estamos nós, neste extremado mundo, enquanto posso, não sei por quanto tempo ainda poderemos. Encho-me de coragem e num misto de medo e revolta, clamo aos ventos, mesmo extraído aqui, menino corre no “Posto Ipiranga” e pergunta de quem é o óleo.
*Poeta, Compositor e Produtor Cultural