As vacinas anticovid, a grande esperança para acabar com a pandemia, não estão chegando a todos
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou nesta segunda-feira (19/01) para a enorme desigualdade na distribuição da vacina contra a SARS-CoV-2 e alertou para as graves consequências.
“Devo ser franco: o mundo está à beira de um fracasso moral catastrófico, e o preço desse fracasso será pago com a vida e o sustento dos países mais pobres”, advertiu Tedros no discurso de abertura do Comitê Executivo da OMS, que se reúne nos próximos nove dias.
O chefe da OMS considerou que não é justo que pessoas saudáveis e jovens de países ricos tenham acesso à vacina antes de grupos vulneráveis de países mais pobres.
Como exemplo, ele explicou que cerca de 39 milhões de doses da vacina contra covid foram distribuídas em 49 dos países mais ricos, em comparação com apenas 25 doses em nações mais pobres.
Até janeiro deste ano, China, Índia, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos desenvolveram vacinas contra o coronavírus, e outras foram desenvolvidas por equipes multinacionais, como a da Pfizer, uma colaboração germano-americana.
Quase todas essas nações priorizaram a distribuição para sua própria população.
O chefe da OMS considerou que a estratégia “eu primeiro” será contraproducente, pois fará com que os preços subam e levará a uma concentração de vacinas.
“No fim, essas ações apenas prolongarão a pandemia, as restrições necessárias para contê-la e o sofrimento humano e econômico”, acrescentou.
Consórcio Covax
O chefe da OMS apelou a um compromisso total com a plataforma Covax, coordenada pela OMS para garantir o acesso equitativo às vacinas nos países em desenvolvimento com ajuda financeira dos países desenvolvidos, que está prevista para entrar em funcionamento no próximo mês.
“Desafio todos os Estados membros a garantir que, até o Dia Mundial da Saúde, em 7 de abril, as vacinas contra covid-19 sejam administradas em todos os países, como um símbolo de esperança de superar a pandemia e as desigualdades que estão na raiz de tantos desafios globais de saúde.”
Até janeiro deste ano, mais de 180 países aderiram à iniciativa Covax. Seu objetivo é unir os países em um bloco para que tenham maior poder nas negociações com as farmacêuticas.
Um total de 92 países — todos eles de baixa e média renda — comprarão as vacinas por meio de um fundo patrocinado por doadores.
“Obtivemos 2 bilhões de doses de cinco produtores, com opção para mais 1 bilhão, e esperamos iniciar a distribuição em fevereiro”, disse Tedros.
Apesar das desigualdades, o CEO considerou que ainda não é tarde para reverter a situação.
“Faço um chamado a todos os países para trabalharem juntos para garantir que nos primeiros 100 dias deste ano a vacinação dos profissionais de saúde e dos idosos esteja em andamento em todos os países.”
No mês passado, a People’s Vaccine Alliance (Aliança da Vacina do Povo), uma rede de organizações que inclui a Anistia Internacional, a Oxfam e a Global Justice Now, denunciou que os países ricos estavam acumulando doses de vacinas anticovidais e alertou que as pessoas nos países pobres seriam deixadas para trás.
A coalizão identificou que cerca de 70 países de baixa renda só podiam vacinar uma em cada 10 pessoas.
O Canadá, em particular, foi fortemente criticado. A coalizão denunciou que o país havia solicitado doses suficientes de vacinas para proteger cada canadense cerca de cinco vezes.
Em dezembro, a ministra do Canadá para o Desenvolvimento Internacional, Karina Gould, rejeitou as alegações de que o país estava estocando vacinas, dizendo que qualquer discussão sobre um excedente era “hipotética”, pois as doses não haviam sido entregues.
Gould ainda garantiu que o Canadá estava destinando US$ 380 milhões (R$ 2 bilhões) para ajudar os países em desenvolvimento em sua luta contra a covid-19.
Fonte: BBC News Brasil