O mercado brasileiro de automóveis está se tornando um tanto desafiador. Poucas semanas após a Mercedes-Benz anunciar sua saída do país, nesta segunda-feira (11), foi a vez da Ford anunciar o fechamento de suas duas fábricas restantes do Brasil. O anúncio inesperado abalou a comunidade de fãs da montadora estadunidense, que possui presença nacional desde 1919 com modelos exclusivos históricos como o Landau e o Del Rey.
A companhia já havia fechado sua planta de São Bernardo do Campo (SP) em 2019, dando fim à linha Fiesta e parando também de fabricar caminhões. Agora, morrem também as fábricas em Taubaté (SP) e Camaçari (BA), responsáveis por todo o portfólio atual da Ford; e Horizonte (CE), que produz os jipes da Troller. Tudo indica que, com o fechamento, esta segunda marca — que nasceu brasileira e foi comprada em 2007 — também morrerá.
As fábricas de Camaçari e Taubaté estão sendo fechadas imediatamente; só na cidade paulista, 830 pessoas foram demitidas. Isso significa que não serão fabricados mais unidades das linhas Ka e EcoSport, por exemplo, sendo reservadas apenas peças para pós-venda. Já a planta da Troller no Ceará será fechada no terceiro trimestre deste ano; novamente, ainda não há um destino certo para o futuro da marca.
Embora a Ford não tenha deixado isso claro, tudo indica que o portefólio oferecido atualmente no Brasil deixará de existir, sendo substituído por uma nova família de automóveis importados da Argentina e outros países sul-americanos. Isso inclui nomes já aguardados como o SUV Bronco, o esportivo Mustang Mach1, o utilitário Transit (que estava desatualizado em comparação com o resto do continente) e a picape Ranger Raptor.
Anúncio evidencia queda da companhia no Brasil
Por mais que o anúncio cause espanto, é válido lembrar que as coisas já não andavam bem para a Ford há um bom tempinho no Brasil. De acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), a marca vendeu 119.454 carros no país ao longo de 2020 — uma queda de 39,2% em comparação com o ano anterior (e uma baixa maior do que a do segmento para o período, que foi de 28,6%).
Embora a crise econômica desencadeada pelo novo coronavírus (SARS-CoV2) tenha afetado o comércio de zero quilômetros como um todo, podemos dizer que a Ford Brasil comete erros sucessivos pelo menos desde 2016, quando surgiram as polêmicas a respeito do câmbio automatizado Powershift, recheado de problemas crônicos. A montadora também chateou muita gente ao descontinuar o Fiesta, o Focus e o sedã de luxo Fusion.
Seu portefólio passou a ser composto, basicamente, pelas desatualizadas linhas Ka (desprovida de atrativos para competir com a concorrência) e Ecosport (que há anos afunda nos rankings comparativos entre os crossovers nacionais). O recém-chegado Territory não convenceu o público; o Edge é caro demais e o Mustang é praticamente um automóvel de nicho. Só restava, de lucrativo, a premiada picape Ranger.
“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável. Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global”, comentou Jim Farley, presidente e CEO da Ford.
Fonte: G1