Por Steffano Silva Nunes
Algo que ajudou muito o mundo e as gerações futuras a entenderem o que foi o nazismo, é que naquela época já haviam muitas filmagens que registraram para a história os acontecimentos como os discursos de Hitler e as atrocidades dos campos de concentração. Além da referência dos livros, as imagens com movimento falam com muita força e exprimem com clareza o que aquele conjunto de ideias racistas se propôs a fazer e fez na prática.
Da mesma maneira se eternizará o que foi o 06 de janeiro de 2021 para o mundo. O “modelo” de democracia americana mostrou que não é imune e não está a salvo, mesmo dentro dos parâmetros nos quais eles conceituam democracia. Os cinco mortos na invasão do congresso americano, chamado de Capitólio, infelizmente são só a ponta do iceberg de um modelo político que mata indiretamente muitas outras pessoas lá mesmo e pelo mundo a fora.
A extrema-direita mostra mais uma vez o quão é perigosa e se coloca como a principal ameaça para a construção civilizatória. As denúncias de fraude na eleição americana pareciam, de início, ser somente choro de perdedor, pois se havia alguma possibilidade de fraude em um processo eleitoral é natural se supor que quem tem essa capacidade de fraudar é exatamente quem está no poder por dispor de informações, contatos, etc., que poderiam de alguma forma influenciar no pleito e não quem está de fora da máquina estatal e se opondo ao atual governo.
Trump está quase que totalmente isolado no mundo. A única voz de apoio, que obteve ao estimular os manifestantes que invadiram o congresso americano, foi do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que mesmo não sendo americano, não residindo nos EUA e após o judiciário americano não confirmar nenhuma das acusações contra o processo eleitoral de lá, Bolsonaro afirma categoricamente que a eleição americana foi fraudada.
Além de compartilharem uma sintonia política, também compartilham os recordes de mortes pela COVID-19. A população americana e a brasileira tem disputado a liderança do percentual de contaminados e de óbitos. Os dois países se alternam na liderança. O discurso de defesa da família, da pátria, da propriedade e da religião, nas mãos da extrema-direita tem se mostrado apenas como uma forma de tentar esconder o vazio da incompetência e da irresponsabilidade que a caracteriza.
Bolsonaro vive afirmando que também haverá problemas aqui na eleição de 2022. Já nos antecipa uma provável confusão que ele mesmo pode vir a causar se seguir o rumo do seu ídolo americano.
Quer o voto impresso aqui. O mesmo que foi usado pelos americanos e que ele acusa de fraudulento. Se não houver problema, podemos ter certeza de que eles inventarão um, pois precisam sempre de um inimigo conspiratório para que possam apontar e com isso se passarem por vítimas de uma perseguição que eles mesmo criam.
Bolsonaro e Trump são perigosos, mas ele apenas assumem a liderança de um segmento mundial que está por trás deles e que é tão perigoso quanto os mesmos. O episódio americano mostra que estão dispostos a tudo. Democracia é um nome que foi riscado dos seus dicionários. Estavam navegando tranquilamente e sem resistência até agora.
Os seus próprios movimentos podem contribuir para o fim de suas influencias no poder global. A invasão do Capitólio pode ser respondida de forma exemplar, desestimulando a tirania.
Os adeptos do totalitarismo continuarão fazendo muito barulho, mas é sempre bom lembrar que esse barulho só se manterá vivo se do outro lado houver sempre o silêncio, tanto lá como cá.